Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta.
De sol quando acorda.
De flor quando ri.
Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede
que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda.
Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça,
melando os dedos com algodão-doce da cor mais doce
que tem pra escolher.
O tempo é outro e a vida fica com a cara que ela tem
de verdade, mas que a gente desaprende de ver.
Tem gente que tem cheiro de banho de mar
quando a água é quente e o céu é azul.
Ao lado delas, a gente se sente chegando em
casa e trocando o salto pelo chinelo.
Ao lado delas, pode ser abril, mas parece manhã
de Natal do tempo em que a gente acordava
e encontrava o presente do Papai Noel.
Ao lado delas, a gente não acha que
o amor é possível, a gente tem certeza.
Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa.
Do brinquedo que a gente não largava.
De passeio no jardim.
Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade
é um perfume que vem de dentro e que a atração
que realmente nos move não passa só pelo corpo.
Corre em outras veias.
Pulsa em outro lugar.
Ana Jácomo